De acordo com a revista "super interessante" os neurologistas, geneticistas e psicólogos trabalham duro atrás de uma explicação. Entender o comportamento humano não é fácil. E quando se trata de mau comportamento, pior ainda. Em setembro de 1995 a Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, sediou a conferência sobre Pesquisas em genética e Comportamento Criminoso. O encontro virou o centro de uma grande polêmica. Ativistas dos direitos humanos reclamaram que esse tipo de estudo desvia a atenção das causas sociais do problema e corre o risco de ajudar a corroborar políticas racistas.
Pode ser. Mas não dá para ignorar as pesquisas. Em 1993, a análise do DNA de integrantes de uma família holandesa na qual se registravam vários casos de conduta violenta levou à conclusão de que um defeito genético era o responsável pelos acessos.
Em 1848, uma barra de ferro perfurou o cérebro de Phineas Gage, em Vermont, EUA. O rapaz, de 25 anos, não morreu mas tornou-se agressivo. Agora, 148 anos depois, a neurologista Hanna Damásio, da Universidade de Iowa, acredita ter encontrado no caso mais um indício sobre a origem do comportamento violento. Ela simulou em computador o trajeto da barra e descobriu que ele passou pelo lobo frontal, atingindo justamente a região que vem sendo apontada como o centro moral do cérebro. Como consequência, Gage teria perdido a capacidade de unir racionalidade e emoção. Por isso ficou violento.
Os estudos do psicólogo Herman Witkin com 4139 recrutas do Exército da Dinamarca, em 1976, já iam pelo mesmo caminho. Witkin achou doze soldados com a formação cromossômica XYY, relativamente rara, e comprovou que 41,7% deles tinham cometido crimes no passado. Entre os demais, o índice de criminalidade era de 9%.
"Acredito que seja na interação entre essas tendências genéticas e as influências do ambiente que está a explicação para a agressividade", pondera Oswaldo Frota-Pessoa, do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (USP). O diretor de Neuropsiquiatria da Universidade de Masachusetts, Craig Ferri, concorda. "O comportamento é 100% hereditário e 100% ambiental", ironiza. Essas teses têm animado os advogados, que andam atormentando os cientistas em busca de argumentos para livrar seus clientes. Por enquanto, sem sucesso.
O médico italiano Cesare Lombroso (1835-1909, foto ao lado) não era geneticista, mas foi o primeiro a falar de hereditariedade do comportamento violento. Ele inventou a Antropometria, segundo a qual quanto maior a semelhança com um símio, mais próxima dele (e, portanto, da bestialidade) encontrava-se a pessoa. Hoje a teoria é considerada caduca e até risível, mas foi centro de debates científicos no século passado. Muitos pareceres jurídicos se embasaram nela. Precavido, Lombroso se protegeu das acusações de racismo estimando em 40% os criminosos que obedeciam à compulsão herdada. Os outros, dizia, agiam movidos por paixão, perda de controle ou motivos justificáveis. Segundo sua tese, além dos traços simiescos, os criminosos de nascença tendiam a ser ambidestros, ter insensibilidade à dor, dificuldade para enrudescer, tato embotado, visão aguda e gosto por tatuagens.
Um outro caso conhecido é de uma mulher que chegou ao Hospital Universitário de Nijmegen, na Holanda, e desviou o rosário: um irmão tentou estuprar a irmã, outro atropelou o chefe, dois eram piromaníacos e um forçava primas a se despir, ameaçando-as com um garfo. Além disso, um estudo genealógico identificara mais nove homens violentos em gerações anteriores. Isso foi em 1978. Dez anos mais tarde ela voltou e sua história interessou o geneticista Han Brunner. Ele analisou o DNA de mais de uma dezena de integrantes da família e, em 1993, concluiu: a violência estava relacionada a um defeito genético no cromossomo X. "Isso não quer dizer que encontramos o gene da violência", ameniza Brunner. "Mas é um elemento a mais para se levar em conta."
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