A pediatra Ghislaine Dehaene-Lambertz, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França, demonstrou, há alguns anos, que bebês de 3 meses já reconhecem frases simples e reagem a elas. Mesmo sem maturidade para a fala, regiões cerebrais semelhantes às dos adultos para o processamento da linguagem são ativadas nessas situações. A conclusão da pesquisadora reforça o que parece, a princípio, comprovar algo que muitos estudiosos defendem: o cérebro de crianças bem pequenas já estaria programado para o futuro desenvolvimento da linguagem. Podemos pensar, portanto, que não basta compreender a forma como um bebê age para aprender processos complexos como a aquisição da fala, é preciso considerar outros aspectos.
Chomsky, professor de linguística desde 1961 do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), incluiu o estudo da linguagem na área da psicologia. Chomsky e colegas elaboraram mais tarde uma teoria que explicava essa questão do sujeito na frase: tanto a criança alemã quanto a brasileira já "saberiam" desde o nascimento que existe algo como a posição do sujeito. Haveria, então, uma espécie de "chave neural comutadora" movida para a posição "sujeito-necessário" ou "sujeito-possível". Para ele esse dispositivo era inato.
Para Chomsky as crianças têm um "órgão da linguagem", de forma que com ele as crianças aprendem a língua materna depressa; segundo suas suposições, o processo de direcionar um mecanismo preexistente para um ou outro lado ocorreria rapidamente.
O psicólogo Michael Tomasello, porém, defende uma visão completamente diferente. Diretor do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária em Leipzig e codiretor do Centro de Pesquisa de Primatas em Gottinger, ambos na Alemanha, ele estuda homens e macacos. Com base na comparação entre as diferentes espéciesTomasello desenvolveu uma teoria sobre a aquisição da linguagem pelos humanos que parte de princípios bastante diversos dos de Chomsky. Em vez de pesquisar na mente a competência linguística inata que nos diferencia de todos os outros seres, ele estuda o uso da língua- sua performance, tão negligenciada por Chomsky. Segundo Tomasello, o que nos distingue dos animais nesse quesito é nossa capacidade de nos colocar no lugar do outro e compreender intenções e sentimentos alheios. Desse modo, nos relacionamos de forma comunicativa: "lemos" a mente do outro e interpretamos seus desejos, segundo Tomasello.
Já para pesquisadores americanos da área de psicolinguística, como Jeny Saffran e Peter Jusczyk, o que conta é o aprendizado estatístico da língua. Segundo eles, de início o que o bebê escuta são apenas sons encadeados; o primeiro passo em direção à linguagem é isolá-los em palavras e depois lhes conferir sentidos.
Atualmente estão em curso vários experimentos científicos para investigar a aquisição da linguagem cujo objetivo é verificar a predisposição de bebês para reconhecer a voz materna. Para isso, a criança é exposta a gravações de vozes em várias línguas.
Dentro das grandes abordagens da aprendizagem, é bem conhecido o teórico Piaget, Vigotsky, Ausbel, Skinner, entre outros, cada um com suas interpretações específicas.
Para Psicólogo e Especialista em distúrbios da Aprendizagem, Michel dos Santos Silva, que atua com a perspectiva analítico-comportamental, é preciso ter cautela em defender a tese de que existem fatores inatos em relação a aprendizagem. "Uma coisa é desenvolvimento da linguagem e outra é considerar o cérebro como portador de codificações 'rígidas', o que não é um fato. A tese do inatismo é derrubada quando desconsidera a importância do ambiente para a aquisição da linguagem.
Ninguém aprende nenhuma língua se não estiver inserido em um contexto específico. Não precisa ser grande conhecedor das abordagem, que tratam da aprendizagem, para se dar conta que é mais fácil aprender uma determinada língua, estando em contado direto com pessoas que falam esta língua.
Atualmente não existem provas de fatores inatos acerca da aprendizagem, mas certamente o ambiente, (considerando como ambiente todo repertório de contato do indivíduo, e aqui entra a cultura), tem influencia direta na aprendizagem, diz Skinner 'nós modificamos o mundo e somos modificados por ele', ou seja existe influência mútua tanto do sujeito como do ambiente na aquisição do comportamento, sendo ele aqui, verbal.
Quando as meninas Amala e Kamala, foram encontradas vivendo entre lobos, não tinham desenvolvido a linguagem humana, mas desenvolveram uma espécie de comunicação com os lobos aos quais conviviam, ao serem encontradas e inseridas no convívio com humanos, nenhuma das duas sobreviveu e somente conseguiram aprender poucas palavras. Aqui cabe a pergunta. Se elas não conviveram com a espécie humana, como poderiam desenvolver a linguagem humana?"
Corroborando o especialista, Tomasello o cerne está no conteúdo simbólico. Os homens se comunicam na medida em que trocam sinais significativos. Assim também surgiu a gramática na história da evolução- e não o contrário. Como se explica então que, durante a aquisição da língua, as crianças primeiro façam esse desvio por uma "não gramática"? Isso só se explica se não partirmos do pressuposto das regras inatas, diz Michael Tomasello, mas se considerarmos o sentido cultural da língua: a comunicação.
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