Cada vez mais acessível, a pornografia deixa sua marca na formação emocional e psíquica de gerações, com malefícios que vão muito além das relações sexuais.
A comparação do vício em pornografia não é unanimidade no meio científico, mas tem crescido nos últimos anos o número de pesquisas que estabelecem essa relação. Entre elas estão dois artigos publicados em 2014, um de autoria de Valeria Voon, junto a um grupo de neurocientistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e outro dos pesquisadores alemães Simone Kuhn e Jurgen Gallinat, do Instituto Max Planck. Destaca-se ainda, o trabalho do neurocientista norte-americano Gary Wilson, que estudou os malefícios do consumo de material pornográfico e propôs soluções para a superação do vício no site e no livro "Your Brain on Porn", publicados também em 2014. Como estes, outros estudos indicam que consumo de pornografia pode ter impactos na plasticidade cerebral semelhantes àqueles causados pelas drogas. Um desses impactos é a dessensibilização do circuito de recompensas: quanto mais uma pessoa consome um conteúdo, menos é capaz de satisfazê-la, o que gera uma necessidade cada vez maior.
No caso da pornografia, o usuário sente necessidade de acessar cenas sempre mais "picantes" e em quantidades crescentes. Não são incomuns, no site criado por Prado e em fóruns na internet, relatos de pessoas que começam com revistas de mulheres nuas, passam a cenas de sexo explícito e chegam ao consumo de imagens de sexo com animais e pedofilia.
A vida social e sexual de pessoas viciadas em pornografia também pode ser fortemente alterada. "Perda de interesse pela parceira, compulsão sexual, disfunção erétil, ansiedade social, confusão mental, procrastinação, vergonha, culpa, ejaculação retardada, crises de abstinência, objetivação do sexo oposto, ejaculação precoce e aquisição de gostos sexuais divergentes de sua orientação sexual", estão, segundo Prado, entre as consequências mais relatadas.
Para Marco Scanavino, coordenador do Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, é necessário ter cautela ao fazermos essas correlações.
"São questões para as quais ainda não temos respostas conclusivas. Não há consenso na área científica. O que a gente observa nos pacientes é principalmente uma impulsividade maior, o hábito de correr mais riscos, e também características compulsivas", explica o psiquiatra.
"São questões para as quais ainda não temos respostas conclusivas. Não há consenso na área científica. O que a gente observa nos pacientes é principalmente uma impulsividade maior, o hábito de correr mais riscos, e também características compulsivas", explica o psiquiatra.
Em suas pesquisas, Scanavino concluiu que pessoas com problemas de compulsão sexual (que inclui o vício em pornografia, mas vai além disso) são majoritariamente homens, na faixa dos 40 anos de idade, com boa escolaridade e renda familiar mensal superior à média brasileira. Além disso, ele observou que, enquanto a população nacional é composta por aproximadamente 90% de heterossexuais e 10% de homossexuais, o percentual de heterossexuais que procuram o ambulatório é de 60%, ante 40% de homo ou bissexuais.
"A pornografia é um dos comportamentos mais referidos pelas pessoas que nos procuram", afirma o cientista. Ele acrescenta que pessoas com histórico familiar de vícios (álcool, drogas, sexo, entre outros) e com experiências de abuso sexual na infância têm uma predisposição maior à compulsão.
Todas estas informações de renomados especialistas no assuntos são muito importantes, por isso, na próxima postagem, serão destacados os mecanismos de superação do vício em pornografia.
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