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terça-feira, 7 de agosto de 2018

MULHERES QUE ABORTAM SÃO SEIS VEZES MAIS PROPENSAS AO SUICÍDIO, DIZ ESTUDO

        A pesquisa mostrou ainda que o risco de depressão aumenta em 30% após um aborto.

        Um amplo estudo realizado pela Sociedade para a Proteção da Criança por Nascer do Reino Unido (SPUC, na sigla em inglês) revelou os graves riscos de saúde física e mental que as mulheres que se submetem ao aborto enfrentam, como o aumento da probabilidade de que cometam suicídio.
        A pesquisa, encabeçada por Dr. Gregory Pike, médico pesquisador australiano do Adelaide Centre for Bioethics and Culture, recolhe trabalhos científicos realizados mundialmente e tem como título “O aborto e a saúde das mulheres”.
        De acordo com a SPUC, entre as descobertas do estudo do Dr. Pike encontra-se que “o suicídio é cerca de seis vezes maior após o aborto do que após dar à luz”.
        “O aborto está associado a taxas significativamente maiores de morte para as mulheres até dez anos após um aborto, em comparação a mulheres que dão à luz”.
        Além disso, as mulheres que abortam se veem expostas a uma “dor significativa” três anos depois do aborto, assim como a 30% de aumento do risco de depressão e 25% de risco de maior ansiedade.
        Outra descoberta da pesquisa, indica SPUC, é que “as mulheres que tiveram abortos frequentemente experimentaram desordens de saúde mental 30% a mais em comparação a mulheres que não tiveram um aborto”.
        As mulheres que se submeteram a abortos também experimentam, com frequência, depressão, ansiedade e desordem de estresse pós-traumático em gestações seguintes.
        Ao apresentar o relatório no dia 27 de outubro, Antonia Tully, diretora de campanhas da SPUC, criticou que “ao lobby pró-aborto e à indústria do aborto, que gasta milhões de libras do contribuinte por realizar abortos financiados pelo Estado, não parece interessar o impacto do aborto nas mulheres ou se recusam a olhar o impacto que tem”.
        “A realidade é que o impacto é tão angustiante quanto horrível para tantas mulheres”.
        Tully sublinhou que “nós realmente nos importamos com o fato de que mulheres que têm um aborto experimentam problemas de saúde mental 30% mais do que mulheres que dão à luz”.
        “Para nós, importa muito que o risco de suicídio seja aproximadamente seis vezes maior após um aborto do que após um parto”, assinalou.
        Em outra pesquisa é apontado que 78% das brasileiras é contra a legalização do aborto no país.
        A pesquisa, que reuniu diversos estudos feitos em várias partes do mundo, foi conduzida pelo doutor Gregory Pike, do Adelaide Centre for Bioethics and Culture, na Austrália, e encomendada pela Sociedade para a Proteção da Criança Nasciturado Reino Unido (SPUC, na sigla em inglês), como parte de uma campanha chamada “Nós nos importamos com as mulheres”, lançada em 27 de outubro, por ocasião dos 50 anos da legalização do aborto na Inglaterra.
        “O lobby pró-aborto e a indústria do aborto, que recebem milhões de libras dos contribuintes por realizar abortos financiados pelo Estado, não parecem se importar com o impacto do aborto nas mulheres ou recusam vê-lo”, disse a diretora de campanhas do SPUC, Antonia Tully, ao apresentar a pesquisa. “O impacto mental, emocional e físico é duradouro e com frequência afeta toda a vida da mulher”.
        Além disso, como já publicado aqui, um recente estudo demonstrou que o aborto aumenta nas mulheres o risco de câncer de mama em 193 por cento e, pelo contrário, as que levaram a término sua gravidez têm muito menor risco que aquelas que nunca estiveram grávidas.
        Segundo uma nota publicada no jornal espanhol La Gazeta, este estudo feito no Irã se une a outros realizados nos Estados Unidos, China e Turquia; somando um total de cinco investigações que nos últimos 18 meses demonstraram que o aborto é uma das principais causa do câncer de mama.
        De acordo à investigação uma primeira gravidez em idade tardia aumenta o risco de câncer de mama, enquanto que mulheres que tiveram várias gravidezes têm 91 por cento menos risco de ter câncer que aquelas que nunca estiveram grávidas.
        O estudo revela ademais que cada novo nascimento reduz o risco de câncer de mama em 50 por cento.
        Os investigadores Hajian-Tilaki K.O. e Kaveh-Ahangar T. da Universidade de Ciências Médicas de Babol realizaram este estudo comparativo com 200 mulheres, 100 delas com câncer de mama diagnosticado recentemente.
        O estudo iraniano chegou pouco antes de que outra pesquisa de cientistas do Sri Lanka revelasse que as mulheres que tiveram um aborto no passado eram 242 por cento mais propensas a contrair câncer de mama.
        Um estudo do ano 2007 realizado por Patrick Carroll do PAPRI(Pension and Population Research Institute) em Londres intitulado "A Epidemia do Câncer de Mama" também demonstrou que o aborto é a principal causa desta enfermidade.
        O Journal of American Physicians and Surgeons (Revista de Médicos e Cirurgiões dos Estados Unidos) publicou nessa ocasião o estudo que explicava que em países com altos índices de aborto, como a Inglaterra e Gales, pode-se esperar uma alta incidência de câncer de mama.
        Artistas modernos que tem sua posição contrária ao aborto, manifestam na arte su expressão de discordância, vemos na imagem ao lado, de Timothy a representação de um anjo que chora sobre um berço vazio, onde estaria uma criança que foi abortada. É uma imagem pró-vida e um comovente memorial para as crianças que se perderam. Este elenco de resina de pedra sólida é revestido em um acabamento de bronze realista e é montado em uma sólida base preta mate. Fonte ACI Digital.

Seguem as referências dos estudos mencionados no artigo:
https://www.spuc.org.uk/~/media/Files/Abortion-and-Womens-Health_April-2017.ashx
https://veja.abril.com.br/blog/radar/mais-de-70-dos-brasileiros-sao-contra-o-aborto/
https://exame.abril.com.br/geral/pesquisa-ibope-comprova-que-brasileiros-estao-mais-conservadores/
https://www.spuc.org.uk/news/news-stories/2017/october/abortion-and-womens-health-spuc-releases-new-review-on-50th-anniversary
http://www.jpands.org/vol12no3/carroll.pdf





quarta-feira, 4 de julho de 2018

Tratamento hormonal para “crianças transgênero” não tem suporte científico, revela estudo

Especialistas advertiram em uma pesquisa recente que resume 50 estudos independentes e revisados, que o uso experimental de “bloqueadores hormonais de puberdade” para tratar a “disforia de gênero” não tem suporte científico e poderia causar graves riscos em pacientes jovens.

A “disforia de gênero” é um diagnóstico psiquiátrico que prescreve uma discordância ou mal-estar com a corporalidade ou com o sexo biológico. A Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde a classifica como “transtorno de identidade de gênero”; enquanto o recente Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Norte-Americana de Psiquiatria especifica que esta experiência é acompanhada de “mal-estar clinicamente significativo ou decadência social, ocupacional ou em outras áreas importantes de funcionamento”.

Um caso conhecido é o da filha do casal de atores Angelina Jolie e Brad Pitt, que com apenas quatro anos, começou desde maio de 2017, um tratamento hormonal para “mudar de sexo” e tentar parecer com um menino.

“Há dez anos, a maioria dos médicos chamaria isso de negligência. Novos dados o converteram em protocolo para milhares de crianças norte-americanas. Nos últimos anos ficou claro, que se apoiamos estas crianças em suas identidades ‘transgênero’, em vez de tentar mudá-las, eles prosperaram em vez de combater a ansiedade e a depressão”, indicou em sua coluna no The New York Times, Jack Turban, um psiquiatra e pesquisador da Escola de Medicina de Yale que recebeu uma avalanche de reclamações por apoiar este tipo de tratamento.

Entretanto, um estudo publicado em 20 de junho no The New Atlantis, “Growing Pains: Problems Whit Puberty Suppression in Treating Gender Dysphoria” (Dores de crescimento: Problemas com a supressão da puberdade no tratamento de disforia de gênero), desafiou amplamente o modelo de tratamento defendido por Turban e muitos outros especialistas.

“À luz de muitas incertezas e desconhecimentos, seria apropriado descrever o uso de tratamentos que bloqueiam a puberdade para a disforia de gênero como experimentais”, indicou o estudo que, além disso, afirma que este tratamento é oferecido às crianças “sem as garantias habituais” deste tipo de terapias experimentais, tais como “ensaios clínicos cuidadosamente controlados, assim como estudos de seguimento em longo prazo”.

O estudo foi realizado por Paul Hruz, um endocrinologista pediatra e professor associado de biologia celular e fisiologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Washington; e ajudaram-no Lawrence Mayer, professor de estatística e bioestatística na Universidade Estadual do Arizona; e o Dr. Paul McHugh, professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, e psiquiatra há 25 anos do Hospital Johns Hopkins.

“Os médicos devem ser cautelosos a respeito de abraçar as terapias experimentais em geral, mas especialmente aquelas que são destinadas às crianças, e devem evitar especialmente qualquer terapia experimental que não tem praticamente nenhuma evidência científica de eficácia ou segurança”, advertem os autores do estudo “Growing Pains”.

Em uma entrevista ao National Catholic Register, o Dr. Hruz reconheceu que as crianças que vivem uma incongruência com o sexo biológico “sofrem” e que a sua luta é um “desafio único” para os pais e médicos. Entretanto, ressaltou que a vulnerabilidade de uma criança representa a necessidade de uma avaliação rigorosa dos tratamentos.

“A conclusão é que há pouca evidência científica que apoia este tratamento como algo seguro e reversível. Não temos provas suficientes sobre a sua segurança, mas sim muitas boas razões para se preocupar com o dano”, indicou.

Segundo o estudo, “os modelos de tratamento que afirmam o gênero (preferido pelo paciente) às vezes se aplicam inclusive a crianças muito pequenas. Muitas vezes, a abordagem de ‘afirmação de gênero’ é seguida na juventude e na idade adulta por intervenções hormonais e cirúrgicas destinadas a fazer com que as aparências dos pacientes se alinhem mais estreitamente com a sua ‘identidade de gênero’ do que com o seu sexo biológico”.

Os defensores desta terapia confirmam que os pacientes prescritos com hormônios poderiam se tornar estéreis, mas o estudo “Growing Pains” adverte de potenciais riscos para a saúde dos pacientes mais jovens.

A alteração da puberdade em crianças tão jovens, como de 9 anos, poderia afetar o seu crescimento físico e a densidade óssea; portanto, os autores assinalam que é necessária uma maior investigação para estudar o impacto que causa no cérebro em desenvolvimento, entre outras preocupações.

Do mesmo modo, afirmam que a falta de dados concretos sobre as origens de disforia de gênero deveria levantar perguntas adicionais como: os médicos deveriam recomendar um tratamento quando eles têm tão pouca informação sobre as causas subjacentes da disforia de gênero e a sua persistência em uma minoria de pacientes?

Por exemplo, a pesquisa assinala que um influente estudo holandês realizado em 2011 sobre o uso desses remédios também revelou que cada paciente no estudo optou por continuar com o tratamento, um sinal de que finalmente se identificaram com o sexo oposto.

Entretanto, estudos anteriores descobriram que a condição não se manteve na maioria dos pacientes; além disso, o estudo “Growing Pains” expõe a possibilidade de que este modelo de tratamento esteja enviando mais pacientes jovens a um caminho de uma via única.

“A identidade de gênero para as crianças é elástica (ou seja, pode mudar ao longo do tempo) e plástica (ou seja, pode ser moldada por forças como a aprovação dos pais e as condições sociais)”.

“Se o uso cada vez maior de terapias de ‘afirmação de gênero’ faz com que as crianças persistam na sua identificação com o sexo oposto, então muitas crianças que de outra forma não necessitariam de tratamento médico contínuo estariam sendo expostas a intervenções hormonais e cirúrgicas”, explica o relatório.

Nesse sentido, os autores de “Growing Pains” reafirmaram que nenhum estudo importante avaliou realmente o impacto da supressão da puberdade em pacientes com esta condição, incluindo aqueles que realinham o seu sexo com o seu sexo biológico, por isso a informação de que o tratamento é “reversível” está “baseada na especulação”.

Por sua parte, o pesquisador PhD, Ryan Anderson, aprovou a publicação de “Growing Pains”, afirmando que “a melhor biologia, psicologia e filosofia apoiam uma compreensão do sexo como uma realidade corporal e de gênero como uma manifestação social do sexo corporal”.

“A biologia não é uma intolerância e precisamos de uma avaliação sóbria e honesta dos custos humanos de erradicar a natureza humana. Este novo estudo no The New Atlantis deve fazer com que todos nos detenhamos antes de aprovar tratamentos médicos radicais em crianças”, concluiu. (Fonte ACI Digital

sexta-feira, 4 de maio de 2018

AMIGOS IMAGINÁRIOS, HERÓI OU VILÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL?


     Durante muito tempo as crianças que criavam "amigos imaginários" foram consideradas solitárias, introvertidas ou, na melhor das hipóteses, filhos únicos em busca de companhia. Na pior delas, vítimas de traumas ou transtornos psíquicos. A culpa também é do cinema, que atribuiu a isso os traços perturbadores do pequeno Danny, filho de Jack Nicholson no filme "O iluminado". A realidade, porém, é mais tranquilizadora. Segundo pesquisa recente na Itália, essas crianças tenderiam a assumir um papel de liderança na sala de aula ou em seu pequeno grupo de colegas. Outros trabalhos indicam que elas seriam mais criativas que as demais. O resultado, porém. é controvertido e há, a refutá-lo, outro estudo recente realizado pela Universidade de Leicenter, Inglaterra. "A imagem da criança solitária e amuada que se refugia no amigo imaginário deve ser desmistificada", explica Tilde Giani Gallino, professora de psicologia do desenvolvimento na Universidade de Turim e autora de livros sobre o tema, como II bambino e i suoi doppi (A criança e os seus duplos, Bollati Boninghieri, 1993).
     As últimas abordagens sugerem que o fenômeno é muito mais difuso do que se pensava. Estudo realizado em 2001 pela Universidade de Leicester com 1800 crianças entre 5 e 12 anos mostrou que 46,2% delas tinham naquele momento ou haviam tido um ou mais companheiros imaginários. Segundo Marjorie Taylor, professora de psicologia da Universidade do Oregon, estados Unidos, e autora de Imaginary companions and the children who create then (Companheiros imaginários e as crianças que os criam, Oxford University Press, 1999), o percentual poderia ser ainda maior: "Não é fácil fazer levantamentos estatísticos sobre um tema tão delicado, mas pensamos que, de cada três crianças com menos de 7 anos, duas têm um companheiro imaginário". 
     Dados de outros países não diferem muito. Da Itália, Gallino informa que, para cerca de um terço das crianças com até 10 anos, o companheiro imaginário é uma realidade importantíssima, enquanto outro terço mantém vínculos menos regulares com várias figuras imaginárias". 
     Trata-se, porém, de uma conduta pouco estudada. "A psicologia científica que se firmou por volta do fim do século XIX não estava preparada para aprofundar um fenômeno tão difícil de quantificar quanto este. Mais tarde as teorias comportamentais se concentraram também no comportamento e na linguagem. Além disso, a imagem negativa que ronda tal fenômeno deve-se, ao menos em parte, ao fato de a psicologia e a psicanálise terem considerado nociva a ideia do duplo, baseadas em estudos de personalidades doentias ou desviantes, ao passo que para a criança este 'duplo' imaginário é um elemento positivo, que a ajuda a construir sua própria personalidade", acredita Gallino.
     Os pais nem sempre compartilham desse otimismo, de acordo com a revista Mente e Cérebro. Taylor explica que "alguns, especialmente os que também tiveram amigos imaginários, orgulham-se da fantasia de seus filhos. Outros, porém, ficam irritados com as dificuldades provocadas: pôr a mesa todos os dias para alguém que não existe ou adiar um passeio porque 'Billy' ou 'Mandy' estão doentes pode criar alguns percalços em família. Muitos pais temem que os seus filhos venham a ter problemas, ser muito solitários ou experimentar dificuldades para se relacionar com companheiros reais". 
     A atitude muda conforme a origem e o nível cultural. Segundo Taylor, o tema foi aprofundado recentemente: "Descobrimos que os pais mais preocupados são os de família culturalmente e socialmente mais modestas. Particularmente incomodados dicam aqueles que professam religiões fundamentalistas, para os quais essas entidades fictícias surgem como um perigoso contato com o mundo dos espíritos malignos". Pesquisadores mostram que na Índia o conceito de "amigo imaginário" não existe e que os pais consideram normal os filhos dialogarem com seres espirituais invisíveis. 
     Com o passar do tempo, a criança sente necessidade de uma relação com um semelhante, alguém igual e ao mesmo tempo outro, com quem discute e se reconcilia. Mas por vezes, as duas figuras assumem papéis um pouco distintos: Tracy Gleason, do Wellesley College, Estados Unidos, entrevistou em 1998 60 crianças de 4 anos. Os resultados mostraram que o "amigo fantasma" representa um coetâneo com o qual se estabelece uma relação de igualdade, enquanto o objeto personificado entra numa relação de subordinação. 
     Segundo os dados coletados por Marjorie Taylor, 27% dos amigos imaginários são representados por crianças "reais", 29% por animais, 17% por crianças dotadas de poderes extraordinários ou mágicos e 12% por pessoas adultas. O restante prefere marcianos, super-heróis, fantasmas ou objetos inanimados. Taylor explica ainda que esse tipo de escolhas é determinado pelo sexo: são principalmente as meninas que criam um amigo imaginário, e os meninos, especialmente em idade pré-escolar, desempenham o papel, "transformando-se em super-herói ou animal feroz e obrigando os pais a chamar-lhes pelo novo nome fantasioso". Gallino acrescenta que "quando escolhem um amigo imaginário, os meninos preferem em geral uma criança semelhante, enquanto meninas tendem a inventar animais, bebês que precisam ser cuidados ou 'príncipes encantados' que as acompanham em mil aventuras, defendendo-as dos perigos". 
     O papel de conselheiro e protetor muitas vezes assumido pelo amigo fictício levou a pensar que se tratava de um comportamento típico de crianças traumatizadas. Mas não é exatamente assim. "É muito provável que uma criança com problemas psicológicos ou que experimentou um trauma crie um amigo imaginário: trata-se de uma situação 'adaptativa', que serve para gerir o problema. Mas isso não significa ser esse companheiro, por si só, um sintoma alarmante", explica Taylor. Ao que Gallino acrescenta: "Basta pensar em como se comportam os adultos: é normal recorrer aos amigos em um momento de crise, mas não é para isto que fazemos amigos. Os amigos imaginários são um modo de exercitar o pensamento e a criatividade, viver aventuras, praticar o diálogo e aprender a assumir o ponto de vista do outro". 
     "A fantasia pode ir bem longe: em um estudo com 37 crianças, 36 afirmaram enfrentar problemas para controlar as ações de seus amigos imaginários. Estamos aprofundando, do ponto de vista cognitivo, a análise deste fenômeno, que pode estar vinculado ao sonho".
     Como se comportar quando chega em casa um "companheiro imaginário" Gallino considera crucial o respeito. "É importante mostrar-se disponível e discreto, aceitando a eventual confidência sem caçoar. As crianças muitas vezes lamentam a intromissão dos adultos e até inventam nomes particularmente fantasiosos ou complicados para seus amigos, tentando assim impedir que estranhos se apropriem deles".
      "Dizer que este amigo não existe é inútil, já que a criança sabe muito bem disso", explica Taylor. "É melhor utilizar a confidência da criança para conhecê-la melhor, aprofundando os aspectos de seu caráter que tendem a permanecer ocultos". 
     Amigos inventados podem viver muito tempo. No passado acreditava-se que esse tipo de experiência terminava na idade pré-escolar, mas sabemos hoje que crianças maiores, adolescentes e até adultos continuam mantendo tais relacionamentos. 
     Se, ocasionalmente, esse amigo da imaginação tem um fim inesperado e traumático- talvez para ser substituído por um personagem mais cativante-, na maioria dos casos ele se limita a sumir, uma vez cumprida sua função. Mas hoje há um inimigo ameaçando a existência deste ser. Gallino adverte que, "nos últimos quatro ou cinco anos, parece estar diminuindo o número dos amigos imaginários. Culpa da televisão e do videocassete, que fornecem imagens e histórias prontas, coloridas e atraentes, dificultando assim o exercício autônomo da fantasia. Uma pena, já que anular a capacidade de imaginação na infância resulta em danos que repercutirão na idade adulta". 

quarta-feira, 25 de abril de 2018

DISCALCULIA OU DISCALCULIAS, ESPECIALISTA DISCUTE SOBRE O ASSUNTO


      O especialista em distúrbios de Aprendizagem e Analista do comportamento Michel dos Santos Silva esclarece que antigamente se falava em apenas uma categoria de discalculia. Hoje já se sabe que, assim como o transtorno do espectro autista, existem muitas categorias nos transtornos das habilidades aritméticas. Falamos hoje não de discalculia como categoria única, mas de discalculias. 
     Para se iniciar a discussão sobre discalculia, é necessário ter em vista que o termo "acalculia" e "discalculia" não podem ser empregados para o mesmo transtorno. 
     O termo acalculia é referido por Keller e Sutton (1991, apud Garcia, 1998, p.212) como "um transtorno relacionado com a aritmética, adquirido após uma lesão cerebral, sabendo que as habilidades já haviam consolidado e desenvolvido". Ou seja, a pessoa desenvolve a acalculia após uma lesão ocorrida em um acidente que ocasiona, por exemplo, lesão cerebral. 
     Por outro lado, a discalculia não é causada por lesões na região cerebral e está associada, principalmente, a estudantes que apresentam dificuldades durante a aprendizagem das habilidades matemáticas. O termo foi referido por Garcia (1998) como discalculia ou discalculia de desenvolvimento, e se caracteriza como uma desordem estrutural da maturação das capacidades matemáticas, sem manifestar, no entanto, uma desordem nas demais funções mentais generalizadas.          
     A criança discalcúlica poderá desenvolver todas as habilidades cognitivas necessária nas outras disciplinas escolares, mas possuir certa deficiência durante a realização de uma ou mais operações matemáticas. Se a discalculia não for detectada poderá ocasionar muitos danos na aprendizagem.        
   Com efeito, a percepção de sua limitação implicará numa incapacidade evolutiva e, consequentemente, na perda da autoestima, da autoimagem e da sua motivação para aprender.
      De acordo com o especialista em distúrbios de aprendizagem, Michel dos Santos Silva, as pessoas com qualquer distúrbio de aprendizagem não são limitadas em aprender, apenas aprendem em uma velocidade e de uma forma diferente da maioria, além disso destaca-se que a discalculia não é um problema intelectual, não se refere a inteligência (Silva, M. S. 2015). 
     Aqui também é importante distinguir que uma pessoa com dificuldade em matemática, não necessariamente tem discalculia. Fatores emocionais e ambientais eliminam a possibilidade de diagnóstico de discalculia, mas não eliminam o desenvolvimento das habilidades aritméticas.  Assim, por exemplo, uma criança que não se alimenta direito, que não dorme direito, que presencia brigas dos pais, discussões familiares, podem ter a aprendizagem afetada por esses fatores, e não porque tem algum distúrbio de aprendizagem. Esses casos são enquadrados como dificuldades de aprendizagem e não distúrbios de aprendizagem. Embora já se saiba que o ambiente tem uma grande influência no desenvolvimento das habilidades aritméticas, como é o caso dos índios da tribo Pirahã, que como visto em outra postagem, somente sabem contar até dois.
   De acordo com Vieira (2004, p.111) discalculia significa, etimologicamente, alteração da capacidade de cálculo e, em um sentido mais amplo, as alterações observáveis no manejo dos números: cálculo mental, leitura dos números e escrita dos números. 
     Em uma classificação apresentada nos estudos de Kosc (1974), foi englobada seis tipos de discalculias, afirmando que essas discalculias podem estar manifestadas sob diferentes combinações e unidas a outros transtornos de aprendizagem, como é o caso, por exemplo, de crianças com dislexia ou TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade). Os subtipos dividem-se em:
  1. DISCALCULIA VERBAL: dificuldade em nomear quantidades matemáticas, os números, os termos e os símbolos;
  2. DISCALCULIA PRACTOGNÓSTICA: dificuldades para enumerar, comparar, manipular objetos reais ou em imagem;
  3. DISCALCULIA LÉXICA: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos;
  4. DISCALCULIA GRÁFICA: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos;
  5. DISCALCULIA IDEOGNÓSTICA: dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos; e
  6. DISCALCULIA OPERACIONAL: dificuldade na execução de operações e cálculos numéricos.
     O primeiro passo é a identificação da discalculia, e em seguida o diagnóstico, que deve ser feito por um profissional qualificado em distúrbios de aprendizagem. E aqui é importante destacar que, embora os educadores possam ter dúvidas frente ao diagnóstico, esses não podem diagnosticar, e se perceberem indícios de qualquer distúrbio de aprendizagem, devem encaminhar aos profissionais habilitados para isso, caso não sejam habilitados. 
     Os especialistas dizem que uma das coisas que prejudica a pessoa com distúrbio de aprendizagem é o "rótulo", muitas crianças não são chamadas pelo nome, mas pela dificuldade ou pelo distúrbio: -O Disléxico faltou- Aquela criança com discalculia não presta atenção nas aulas- Tem que chamar a mãe daquele hiperativo aqui na escola. Isso é péssimo para a crianças, que é muito mais do que o diagnóstico recebido, ninguém merece ser chamado pelo nome da sua dificuldade, o ideal é SEMPRE chamar a criança pelo nome e não pelo que ela apresenta, e isso vale para todos, tanto para os responsáveis como para os educadores, pois os rótulos destroem a autoestima da pessoa e podem ser tão prejudiciais como o bullying. 
     De acordo com Bernardi (2014) "o educador deve estar atento ao processo de aprendizagem de seus educandos, principalmente quando a criança demonstrar pouca motivação para aprender, revelar uma autoimagem negativa e, consequentemente, uma baixa autoestima por cometer muitos erros durante a realização de atividades matemáticas relacionadas à construção do número ou de aritmética. Comportamentos e equívocos aparentemente banais durante a construção do conhecimento matemático, mas que podem ser a chave reveladora de uma discalculia. 
    Além disso, o professor necessita de utilização e exploração de alguns instrumentos neuropsicológicos para identificar um aluno com discalculia. Vieira (2004, p.116) formulou uma relação dos principais transtornos de aprendizagem que atingem exclusivamente a Matemática, os quais podem auxiliar o professor na identificação de um aluno com discalculia:
  • Dificuldades na identificação de números: o aluno pode trocar os algarismos 6 e 9, 2 e 5, dizer dois quando o algarismo é quatro.
  • Incapacidade para estabelecer uma correspondência recíproca: dizer o número a uma velocidade e expressar, oralmente, em outra.
  • Escassa habilidade para contar compreensivamente: decorar rotina dos números, ter déficit de memória, nomear de forma incorreta os números relativos ao último dia da semana, estações do ano, férias.
  • Dificuldade na compreensão dos conjuntos: compreender de maneira errada o significado de um grupo de coleção de objetos.
  • Dificuldade na conservação: não conseguir que os valores 6 e 4+2 ou 5+1 se correspondem; para eles somente significam mais objetos. 
  • Dificuldades no cálculo: o déficit de memória dificulta essa aprendizagem. Confusão na direcionalidade ou apresentação das operações a realizar.
  • Dificuldade na compreensão do conceito de medida: não conseguir fazer estimações acertadas sobre algo quando necessitar dispor das medidas em unidades precisas.
  • Dificuldade para aprender a dizer as horas: aprender as horas requer a compreensão dos minutos e segundos e o aluno com discalculia quase sempre apresenta problemas.
  • Dificuldade na compreensão do valor das moedas: dificuldade na aquisição da conservação da quantidade, relacionada a moedas, por exemplo: 1 moeda de 25= 5 moedas de 5.
  • Dificuldade na compreensão da linguagem matemática e dos símbolos: adição (+), subtração (-), multiplicação (x) e divisão (:).
  • Dificuldade em resolver problemas orais: o déficit de decodificação e compreensão do processo leitor impedirá a interpretação correta dos problemas orais.
     Esses transtornos específicos de Matemática requerem certa urgência na sua identificação, pois quanto antes forem diagnosticados, mais fácil tornar-se-á o processo de intervenção. É importante que o professor, ao iniciar o trabalho com alunos discalcúlicos, proporcione intervenções pedagógicas visando o resgate da autoestima e da autoimagem desse aluno. A este respeito, Coll, Marchesi e Palacios (2004a) orientam que o docente deve procurar conhecer as possibilidades dos alunos, e não apenas aprofundar-se no déficit".
     Pesquisas tem mostrado que a Análise do Comportamento contribui muito para pessoas com distúrbios de aprendizagem (Silva, M. S. 2015).
     É importante que os responsáveis saibam que não são todos os educadores que estão preparados para trabalhar com crianças com distúrbios de aprendizagem, e mesmo que estejam, nosso sistema educacional não proporciona condições adequadas para esse trabalho. Uma sala com 40 crianças e apenas um educador, é um grande desafio, e o acompanhamento de uma criança com distúrbio de aprendizagem padece por não poder ser acompanhada adequadamente, não pela motivação do educador, mas pela dificuldade em "dar atenção" para a pessoa com distúrbio, e os outros 39 que estão "derrubando a sala de aula". 
     Por isso Silva (2015) aconselha que as crianças que apresentam características de distúrbios de aprendizagem, ou mesmo as diagnosticadas, tem uma significativa melhora com o acompanhamento terapêutico, que é um trabalho clínico que visa promover a autonomia e a reinserção social, bem como uma melhora na organização subjetiva do paciente, por meio da ampliação da circulação e da apropriação de espaços públicos e privados.
     O trabalho clínico se desenvolve através de encontros cujo campo de ação é o cotidiano dos sujeitos acompanhados, e um fazer em comum, por meio do qual o paciente pode encontrar uma maneira de conduzir sua vida de forma mais autônoma. Os atendimentos podem acontecer em casa e/ou em outros espaços da cidade como cinemas, lanchonetes, shoppings, teatros, escolas etc. 
     O profissional elabora um plano de trabalho e executa a partir das demandas do paciente, e os objetivos que deseja atingir, de uma forma singular, a duração e frequência se definem em função de cada caso. 
     Para mais informações entre em contato com o especialista em distúrbios de aprendizagem pelo email: especialistamichel@gmail.com.

     Abaixo está um vídeo, sobre a discalculia, explicada no programa do Jô, assistam, em uma parte mostra um macaco resolvendo questões de memória de curto prazo, muito interessante!


terça-feira, 24 de abril de 2018

PESQUISAS NEUROLÓGICAS APONTAM DESCOBERTAS SOBRE COMO TRATAR PESSOAS QUE SOFREM DE TDAH


   O número de casos cresce ano a ano, intensificando a discussão sobre questões básicas. Há exagero no diagnóstico do TDAH? As drogas oferecem tratamento mais eficaz que psicoterapias? Avanços recentes na compreensão de como o cérebro de portadores de TDAH é diferente dos outros sugerem respostas.
    O TDAH é diagnosticado entre 2% e 5% das crianças com 6 a 16 anos. Aproximadamente 80% são meninos. Os sintomas típicos de distração, hiperatividade e agitação aparecem em todas as idades, até mesmo em adultos, mas com uma disparidade considerável. As crianças mostram-se esquecidas ou impacientes, tendem a atrapalhar os outros e têm dificuldade em respeitar limites. A falta de controle dos impulsos se manifesta em decisões precipitadas, brincadeiras bobas e alterações rápidas de humor: elas agem sem pensar. Ainda assim, crianças com TDAH muitas vezes se comportam de modo perfeitamente normal em situações novas, principalmente se tiverem pouca duração e envolverem contato direto com pessoas agradáveis, ou forem estimulantes, como assistir à TV ou participar de jogos.
Ao lado vc pode observar algumas pessoas famosas que tiveram o TDAH:
     Antecedentes como temperamento difícil ou transtornos de sono ou apetite já foram detectados em crianças com menos de 3 anos que depois foram diagnosticadas com TDAH, mas não é possível fazer uma avaliação definitiva nos primeiros três anos de vida. A inquietação física normalmente se reduz nos adolescentes, mas a falta de atenção permanece, e muitas vezes se associa a comportamentos agressivos ou antissociais e problemas emocionais, assim como a uma tendência ao uso de drogas. Os sintomas continuam na idade adulta entre 30% e 50% dos casos.
     Estudos epidemiológicos de longa duração demonstraram que o TDAH não é mais comum hoje que no passado. O aparente aumento estatístico no número de casos pode ser explicado pela maior conscientização e melhora no diagnóstico. Atualmente é possível identificar o problema segundo um conjunto de características que o diferenciam do comportamento adequado para cada idade. Mesmo assim, as discussões sobre o exagero no diagnóstico e sobre o melhor tratamento estão mais acirradas que nunca.
     O debate tem recebido subsídios dos neurologistas. Utilizando as mais modernas técnicas de imageamento, pesquisadores identificaram diferenças em várias regiões do cérebro de crianças que sofrem de TDAH. Na média, tanto seu lobo frontal como o cerebelo são menores, assim como os lobos parietal e temporal. O TDAH parece ser resultado do processamento anormal de informações nessas áreas cerebrais, responsáveis pela emoção e pelo controle dos impulsos e dos movimentos.            Mas essas variações não indicam nenhuma deficiência mental básica.
     Os médicos vêem hoje o transtorno como um extremo dentro da variabilidade do comportamento humano. Em testes neurológicos como o reconhecimento de uma sequência de letras num computador, as crianças com TDAH apresentam tempos de reação variados, mas frequentemente mais lentos. O motivo, acreditam especialistas, é que o processamento neural de informação- a base da experiência e do comportamento- pode se interromper, principalmente quando muitas exigências concorrentes inundam subitamente o cérebro. Nessas circunstâncias, ou diante de tarefas que requeiram velocidade, eficácia ou resistência, o desempenho dos cérebros de crianças com TDAH cai drasticamente. A falta de estímulo, por outro lado, leva rapidamente ao tédio. 
     O déficit de atenção fica particularmente claro quando se pede as crianças que controlem seu comportamento- interrompendo um ato impulsivo ou mantendo um alto nível de performace em determinada tarefa. O problema não está tanto na falta de atenção em si, mas na rápida queda da capacidade de prestar atenção contínua. 
     Um fenômeno diferente, no entanto, dá às crianças hiperativas uma necessidade incontrolável de se mexer. Junto com o cerebelo, que coordena o movimento, vários sistemas de controle no interior do cérebro e sob o córtex são responsáveis pelas funções motoras. Nessa região reúnem-se os neurônios do córtex motor, dos gânglios da base e do tálamo. O córtex motor representa o estágio final do processamento neural. Depois dele, os impulsos motores são enviados para os músculos. Quando a atividade nessas regiões não está equilibrada, as crianças têm dificuldade de preparar, selecionar e executar movimentos, já que não conseguem controlar ou inibir adequadamente seu sistema motor. Movimentos complexos que exigem um sequenciamento preciso são iniciados cedo demais e ultrapassam o alvo. A hiperatividade também costuma andar de mãos dadas com déficits na coordenação motora fina e com a incapacidade da criança de parar de falar.
     Em geral, a característica básica da impulsividade relaciona-se ao desenvolvimento da chamada função executiva do cérebro: a capacidade de planejar e monitorar a memória de trabalho. Conforme o cérebro amadurece, essa atribuição se desenvolve. Em crianças com TDAH, porém, ela tende a permanecer rudimentar. Em termos anatômicos, a função executiva do cérebro resulta de redes neurais no córtex pré-frontal- o chamado sistema atencional anterior. Junto com o sistema atencional posterior, localizado em grande parte nos lobos parietais, ele monitora e controla o comportamento. 
     Como tentam conduzir a vida sem uma boa capacidade de monitoração e planejamento, as crianças com TDAH enfrentam uma constante batalha com suas emoções. Quase não conseguem controlar seus sentimentos, e não suportam bem a frustração. Ficam excitadas e impacientes com facilidade e pendem para a hostilidade. Também acham difícil se motivar para realizar determinadas tarefas. Além disso, estão dispostas a agarrar a primeira recompensa que aparecer pela frente, não importa quão pequena seja, em vez de esperar por uma compensação maior e mais atraente. 
     A dopamina tem uma importante atuação no sistema límbico, que trata dos desafios emocionais, e as crianças com TDAH quase sempre têm níveis baixos desse neurotransmissor. A liberação de dopamina normalmente fortalece as conexões neurais que levam ao comportamento desejado quando há um estímulo de recompensa. Mas, quando ausente, recompensas pequenas ou mostradas no momento errado não funcionam. 
     Uma dúvida despertada por todas essas descobertas é por que regiões específicas do cérebro são menores que outras e por que motivo certas funções cerebrais ficam enfraquecidas ou desequilibradas. Os genes podem ter um papel considerável. Estudos abrangentes realizados com pais e filhos e com gêmeos idênticos e fraternos, como os conduzidos por Anita Thapar, da Universidade de Cardiff, em 1999, por Philip Aherson, do King's College, de Londres, e por Susan Sprich, do Hospital Geral de Massachusetts, também em 2001, mostram que a hereditariedade tem grande influência na ocorrência do TDAH, por exemplo, são muito mais propensos a sofrer de sintomas semelhantes. Essas pesquisas indicam que aproximadamente 80% dos casos de TDAH se relacionam com fatores genéticos. 

GENES SUSPEITOS

     Por isso, pesquisadores têm trabalhado muito para identificar os genes que sejam diferentes nas crianças com TDAH. No topo da lista de suspeitos estão genes envolvidos na transferência de informação entre neurônios. Esse grupo inclui genes para proteínas que influenciam na circulação da dopamina nas sinapses entre os neurônios- por exemplo, proteínas que eliminam moléculas mensageiras antigas para abrir caminho para as novas, Até agora, cientistas descobriram que a mediação do receptor do sinal de dopamina é muito fraca em certos pacientes, e que a reabsorção desse neurotransmissor é muito rápida em outros. 
     As pesquisas genéticas parecem indicar que problemas de comportamento estão associados a uma regulação falha do metabolismo da dopamina, atrapalhando o processamento de informação. Outro neurotransmissor, a noradrenalina, também pode ter seu papel. Apesar de as ligações genéticas entre a noradrenalina e seus receptores e condutores não serem tão claramente compreendidas, medicamentos como a atomoxetina, que inibem a reabsorção da noradrenalina pelos neurônios, provocam uma melhora real nos sintomas. 
     Combinadas as evidências dos neurotransmissores e das imagens cerebrais indicam a possibilidade de os encéfalos de crianças com TDAH terem uma organização e um funcionamento deferentes desde uma idade muito precoce. Essas disparidades orgânicas podem na verdade ser a causa das alterações comportamentais, e não consequência delas, como algumas vezes se sugere. Outra evidência é que, em alguns casos, conforme a criança amadurece, certas peculiaridades fisiológicas, como o tamanho do corpo estriado, normalizam-se, e o TDAH perde a intensidade.
     Mesmo com esses fatos, ainda não se pode ligar com certeza o TDAH a fatores físicos e genéticos conhecidos. Especialistas acreditam que os loci genéticos descobertos até hoje expliquem no máximo 5% dos comportamentos problemáticos. Se há mais variações genéticas básicas responsáveis, elas ainda não foram encontradas. A probabilidade de desenvolver um transtorno de hiperatividade depende de uma associação de vários genes diferentes.
     Além disso, há uma ampla variabilidade no grau de expressão desses fatores genéticos. Isso significa que influências do ambiente certamente têm alguma atuação. Por exemplo, o consumo de álcool e nicotina durante a gravidez tende a aumentar o risco de TDAH nos bebês e contribui para a prematuridade extrema, baixo peso ao nascer e alergias alimentares. No vídeo abaixo, o programa Fantástico apresenta alguns casos de pessoas com TDAH.

MEDICAÇÃO EM DISPUTA

     Por outro lado, também é verdade que as mães com uma predisposição genética ao TDAH têm predisposição a fumar e beber durante a gravidez. Além disso, não conseguem estabelecer regras claras e limites eficientes. Uma casa caótica pode reforçar tendências biológicas ao TDAH, levando a um círculo vicioso.
     Outros fatores psicossociais, incluindo ambiente escolar sem apoio, crises conjugais e problemas psicológicos entre os pais, além de uma ligação deficiente destes com a criança, também podem transformar uma tendência latente em um transtorno instalado.
Recentes descobertas sobre déficits nas funções cerebrais e em neurotransmissores explicam claramente por que certas drogas são tratamentos possíveis. Mas a atuação do ambiente sugere que a terapia comportamental também possa ser eficaz. A incerteza cerca hoje as duas alternativas, e o crescente uso de medicamentos é polêmico. As opiniões vão do apoio entusiástico à rejeição categórica.
     As provas materiais indicam que os alvos devem ser os sistemas de neurotransmissores. Psicoestimulantes como sulfato de anfetamina e o metilfenidato, comercializados sob nomes como Ritalina, obtiveram grande sucesso. Vários estudos clínicos mostram que estes medicamentos reduzem ou eliminam os transtornos comportamentais entre 70% e 90% dos pacientes.
     Pode parecer absurdo administrar estimulantes para crianças hiperativas. Mas essas substâncias solucionam o desequilíbrio de base genética da dopamina nas regiões do cérebro responsáveis por auto-regulação, controle dos impulsos e percepção. Efetivamente, elas evitam a reabsorção excessivamente rápida da dopamina nas sinapses. Outras substâncias que agem de forma semelhante, como a atomoxetina, um inibidor de reabsorção de noradrenalina, também funcionam.
     É compreensível que os pais resistam em submeter seus filhos a um regime de medicação de longo prazo. Notícias de que o uso da Ritalina pode ter influência na ocorrência da doença de Parkinson, que resulta da deficiência da dopamina, pioram a situação. Suspeitou-se dessa conexão porque camundongos que receberam metilfenidato antes da maturidade sexual apresentaram um número menor que o normal de transportadores de dopamina em seu corpo estriado. Mas, até hoje, nenhum caso de Parkinson foi atribuído ao uso de Ritalina durante a infância, e, na média, os pacientes de Parkinson não têm no histórico registros de ingestão maior de psicoestimulantes que outras pessoas. Mesmo assim, muitos pais temem que um tratamento longo com drogas psicoativas tornem as crianças vulneráveis ao abuso de drogas ou medicamentos no futuro.
     Recentemente no entanto, Timothy E. Wilens e seus colegas da faculdade de medicina de Harvard sepultaram essas preocupações com um estudo em larga escala. Na verdade, o uso de psicoestimulantes reduziu significativamente o risco de abuso no futuro. Comparando adultos portadores de TDAH com sintomas semelhantes, aqueles que não tomaram medicamentos para o transtorno quando crianças foram três vezes mais propensos a se tornar dependentes de drogas mais tarde, em relação àqueles que receberam os remédios.
     Isso significa que os médicos devam sair por aí prescrevendo as drogas. E sob nenhuma circunstância os médicos, pais ou pacientes devem contar exclusivamente com o remédio. Estudos mostram que a associação de terapia comportamental aumenta em muito os benefícios. Ela também ensina as crianças a superar qualquer tipo de comportamento problemático que surja mais tarde. As crianças aprendem a se observar e a se controlar. A não ser que o TDAH seja extremo, a terapia comportamental deve ser a primeira opção de tratamento. Se a criança não mostrar sinais claros de progresso depois de vários meses, pode-se considerar o uso de medicamentos.
     Para as crianças mais novas, em idade pré-escolar, deve-se em geral evitar o uso de psicoestimulantes. Os pais precisam, em vez disso, tentar trabalhar o comportamento com a criança no dia a dia. Também podem aproveitar a experiência dos professores de pré-escola, que convivem com muitas crianças diferentes, como uma ampla gama de problemas.

REMÉDIO E TERAPIA

     Um exame abrangente conduzido em 2000 pelo Instituto Nacional de Saúde Mental do Estados Unidos classificou a eficácia dos tratamentos médicos e comportamentais para o TDAH. Realizado em dois anos, o Estudo de tratamento Multimodal para Crianças com TDAH observou 579 vítimas do transtorno em seis centros médicos universitários. Os investigadores dividiram os sujeitos do teste, todos entre 7 e 9 anos de idade, em quatro grupos com planos de tratamento diferentes. Os resultados sugerem com veemência que a associação de remédios e terapias comportamentais leva às mais altas taxas de sucesso.
  • O tratamento diário de rotina com a medicação normalizou o comportamento de 25% das crianças tratadas.
  • A terapia comportamental intensiva, sem a medicação, eliminou os sintomas mais graves em 34% dos pacientes.
  • Um tratamento médico determinado especialmente para cada um, acompanhado de aconselhamento para os pais e a criança, ajudou 56% das vítimas do transtorno.
  • A combinação entre a medicação e a terapia comportamental resultou em uma taxa de sucesso de 68%. 
     Essas descobertas nos permitem tirar conclusões sobre como pais e educadores podem ajudar melhor as crianças com TDAH. Com ou sem drogas, é imperativo que as crianças sejam ensinadas a lidar com as tarefas com mais organização e menos impulsividade. Uma estratégia comum, por exemplo, é ensiná-las a contar até dez antes de realizar um impulso, como pular em cima de uma mesa na escola. Pôsteres e cartões com o sinal de "Pare" ajudam a lembrá-las a utilizar no calor do momento os truques que aprenderam. Crianças mais velhas e adolescentes podem aprender a criar planos detalhados e a segui-los até o fim, mesmo quando tarefas complicadas ameaçam pôr tudo a perder- por exemplo, quando precisam arrumar um quarto bagunçado.
     Os pais também precisam de ajuda para lidar com situações desafiadoras. Podem receber orientação em programas que tratem de suas técnicas de educação e da interação da criança com a família. Uma recomendação comum é estabelecer cronogramas escritos com as crianças, para que o fato de se aprontar para a escola de manhã, por exemplo, não se transforme numa batalha diária. Regras claras, específicas e consequências previstas também apresentam eficácia. Os pais e até os irmãos devem ser incluídos na terapia familiar, principalmente no caso de adolescentes com TDAH.
     Conforme a neurociência avança, os terapeutas tentam refinar quais as associações de drogas e terapias são mais eficientes para cada tipo de TDAH. Ainda há muito a fazer. Não se sabe quase nada, por exemplo, sobre o que acontece no cérebro das crianças com TDAH entre o nascimento e a época que entram na escola. Uma conclusão tem ficado cada vez mais clara: as diferentes combinações de comportamentos não podem ficar agrupadas na imagem de um único transtorno. Os pesquisadores buscam definir subgrupos que sejam mais coerentes em termos de sintomas e causas neurológicas. Para isso, analisam outros distúrbios muitas vezes associados ao déficit de atenção ou à hiperatividade, aproximadamente 80% das crianças com TDAH sofrem de pelo menos mais um problema, como tiques nervosos, comportamento anti-social, ansiedade ou problemas de leitura ou escrita. 
     Ao mesmo tempo, pais e professores devem se lembrar de que as crianças com TDAH possuem muitas características positivas. Elas tendem a ser atrevidas, curiosas, energéticas e engraçadas, além de inteligentes e criativas. Seu comportamento é muitas vezes espontâneo, prestativo e sensível.       
     Várias delas têm talento para fazer muitas coisas ao mesmo tempo e são grandes improvisadoras.       Pais e educadores devem reforçar esses pontos, mostrando às crianças que essas qualidades são altamente valorizadas. Isso vai ajudá-las a se sentirem menos pressionadas, um alívio que pode colaborar para que melhorem.
     Para dúvidas, você pode entrar em contato com o especialista em distúrbios de aprendizagem e colunista desse blog Michel dos Santos Silva que também tem o diagnóstico de TDAH pelo email: especialistamichel@gmail.com.
No vídeo a seguir, vc poderá observar alguns famosos com o TDAH, assista:

Por Aribert Rothenber e Tobias Banaschewski e revista Mente e Cérebro.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

AS BASES NEUROCIENTÍFICAS DA PSICOTERAPIA


     Estamos no limiar de uma nova era da ciência do comportamento, e a psiquiatria moderna tem adotado uma postura pragmática em relação à dicotomia cartesiana que define corpo e mente como entidades separadas. 
     No final do século XIX, Darwin desenvolveu a teoria da evolução, que vem sendo confirmada pelos resultados dos estudos do genoma. Descobertas neurocientíficas recentes comprovam não só a plasticidade neuronal do cérebro humano como também a tendência natural do homem de adaptar-se ao meio, através de seu "kit de sobrevivência" afetivo. Na primeira metade do século XX, os tratamentos psiquiátricos eram polarizados em dois extremos: o grupo organicista, que recorria a tratamentos físicos, como o eletrochoque, e o psicanalítico, que via a psicanálise como uma espécie de panicéia universal. Durante quase todo o século, as duas posições foram tão antagônicas que se assemelhavam ao embate capitalismo versus comunismo.
     A queda dessa espécie de muro de Berlim ocorreu a partir dos anos 90, denominada "década do cérebro", quando houve enorme avanço das neurociências, principalmente com as descobertas das técnicas de imageamento cerebral. Isso nos fez chegar neste novo milênio ao paradigma da integração cérebro-mente na área da saúde mental, resultante de uma série de pequenas mudanças ocorridas durante a segunda metade do século XX, a começar pela descoberta da clomazina, em 1952, por Delay e Denicker, na França, introduzindo os psicofármacos no arsenal terapêutico. Também os questionamentos políticos/ideológicos/ teóricos levantados pelo movimento antipsiquiátrico na década de 60, em oposição aos tratamentos vigentes, inclusive o psicanalítico, acabaram por estimular uma reação nos Estados Unidos (posteriormente denominada "revolução científica da psiquiatria) que levou à elaboração de manuais de diagnóstico psiquiátrico com critérios objetivos que permitissem maior segurança na avaliação dos transtornos psiquiátricos e na indicação terapêutica (DSM-III e CID-10).
     Atualmente, após esse enorme progresso, é possível visualizar o cérebro em pleno funcionamento e de alguma forma monitorar "coisas etéreas", como pensamentos e sentimentos, com o uso de técnicas de imageamento cerebral. O neurocientista Eric Kandel, que recebeu o prêmio Nobel por pesquisas na área do funcionamento bioquímico cerebral, tem buscado encontrar paralelos entre os achados da neurociência e os construtos hipotéticos psicanalíticos. Para ele, "a psicanálise entra no século XXI com sua influência em declínio. Se a psicanálise preferir ficar em cima de seus feitos do passado, ela permanecerá uma filosofia da mente e uma literatura psicanalítica a ser lida como um texto filosófico moderno ou poético".
     Alguns poderiam interpretar como "tendência de o pêndulo balançar em direção à biologia" o fato de se explicar que um processo psicoterapêutico eficaz provoca mudanças no funcionamento cerebral através de alterações entre conexões neuronais. Entretanto, ao contrário, essa situação deve ser encarada como uma posição "pró-psicologia", já que é exatamente por meio de relações interpessoais que se alteram representações mentais. Precisamos "colocar de volta os neurônios nas neuroses") (Vaughan, S.1997), e a própria técnica psicanalítica, também conhecida como talking cure ("a cura pela palavra"), hoje pode ser explicada pelo conceito neurocientífico de "plasticidade neuronal". 
     O processo psicoterapêutico desencadeia mudanças no comportamento do paciente, o que inevitavelmente altera o funcionamento cerebral através de transformações nas conexões neuronais e daí a estrutura cerebral e o processo de consolidação da memória. Uma nova relação de apego modifica a memória processual implícita por meio de novas experiências de relação com o terapeuta.          A busca de um modelo neural dos mecanismos de memória baseia-se nos resultados de pesquisa indicando que o treinamento ou a experiência diferenciada leva a variações significativas na neuroquímica cerebral, anatomia e eletrofisiologia. Sendo assim, é geralmente aceito que a psicoterapia seja uma poderosa intervenção que afeta e modifica diretamente o cérebro. Desde 1992 a hipótese de que ela provoca modificações no funcionamento do cérebro vem sendo confirmada através de pesquisas com imagem. 

INTERVENÇÕES NO FUNCIONAMENTO CEREBRAL 

     Novas tecnologias, incorporando as recentes descobertas sobre o funcionamento do cérebro, principalmente os atuais estudos com PET scan (tomografia cerebral computadorizada por emissão de pósitrons) e ressonância magnética funcional, permitem analisar os efeitos não só das modernas medicações psicotrópicas como também das intervenções psicoterapêuticas no funcionamento cerebral. 
     Em 1992 foi feita a primeira pesquisa desse tipo (Baxter et al., 1992), repetida posteriormente (Schwatz et al., 1996). Esses trabalhos comprovaram a eficácia tanto da psicoterapia comportamental como do tratamento farmacológico com serotoninérgéticos no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo.
     Dados de imagem visual de ensaios clínicos com pacientes diagnosticados com transtorno de stress pós-traumático (TSPT), realizando avaliação pré e pós através de spect (tomografia computadorizada por emissão de fóton único) após terapia com EMDR (movimentos dos olhos para dessensibilização e reprocessamento), mostraram que, após esse tipo de procedimento, houve aumento de metabolismo pré-frontal e diminuição de ativação do sistema límbico (Van der Kolk, 1997). 
     Pesquisa sobre o resultado da psicoterapia cognitiva no trato de sintomas do transtorno de stress pós-traumático (Rauch et al., 1996) verificou, através de medições das mudanças do fluxo sanguíneo no cérebro realizadas por meio de PET scan, assimetria funcional com predominância de estimulação do hemisfério cerebral direito e ativação do córtex visual e desativação da área de Broca. 
     Esses dados corroboram a observação de que os pacientes com TEPT têm dificuldade de estruturar cognitivamente suas experiências traumáticas, tendendo a revivenciar a situação original como se estivesse ocorrendo naquele momento e a não verbalizar essas experiências. Após o tratamento, no qual os pacientes foram expostos a narrativas vivas e detalhadas de seus próprios traumas, os resultados do PET scan revelaram um retorno ao funcionamento do fluxo sanguíneo cerebral simétrico, com ativação da área de Broca.
     Estudo usando spect antes e após um ano de psicoterapia psicodinâmica num paciente bipolar, com exames  de imagem visual comparados com um paciente bipolar controle, que não recebeu nenhum tratamento, e com dez pessoas saudáveis controle mostrou que, no início, ambos os pacientes apresentavam diminuição do metabolismo de serotonina no córtex pré-frontal e tálamo, em comparação com os indivíduos normais e, que depois de um ano de psicoterapia, o paciente apresentou funcionamento serotoninérgico normal (Viinamaki H, Kuikka J, Tiihonnen J. et al, 1998).
Pacientes apresentando depressão maior, de acordo com a classificação DSM-IV, foram submetidos a 12 semanas de tratamento medicamentoso com antidepressivo serotoninérgico (paroxetina) ou com psicoterapia interpessoal e avaliados com PET scan no início e no final do tratamento na região do córtex pré-frontal e diminuição na região do lobo temporal, em comparação ao grupo de controle. Após 12 semanas, os pacientes apresentaram mudanças metabólicas em direção à normalização nessas regiões tanto com o tratamento medicamentoso quanto com o psicoterapeutico (Brody et. al., 2001).

por: Vera Lemgruber


segunda-feira, 16 de abril de 2018

CADA LÍNGUA UMA SENTENÇA PARA A DISLEXIA


     Antigamente, crianças que tinham dificuldade para ler e escrever eram difamadas como burras e preguiçosas. Atualmente, já deve ter-se espalhado a informação de que leitura e escrita debilitadas, ou dislexia, mal de que uma em cada dez crianças sofre, não têm nenhuma relação com pouca inteligência ou ausência de esforço. Hoje são conhecidas até mesmo as regiões cerebrais envolvidas em tais atividades: nos disléxicos algumas partes do hemisfério cerebral esquerdo- em especial o córtex têmporo-parietal- permanecem bastante inativas. É ali que as sequências de letras são traduzidas em unidades carregadas de sentido. Mas será que tal diagnóstico também vale para pessoas de outras regiões linguísticas- como os chineses, por exemplo?
     Não, diz Wai Ting Siok. A psicóloga da Universidade de Hong Kong deu a 16 alunos chineses de cerca de 11 anos variados exercícios de leitura; oito eram disléxicos. Enquanto as crianças se debruçavam sobre os seus já conhecidos símbolos linguísticos, a pesquisadora mediu a atividade cerebral de cada um por meio de ressonância magnética funcional.
Constatou-se que o córtex têmporo-parietal estava normalmente ativo em todas as crianças, enquanto o giro frontal medial esquerdo era muito mais lento nos disléxicos. Nesta última região, supõe Siok, os símbolos gráficos são associados aos sons correspondentes.
     A pesquisadora concluiu, portanto, que o processamento de som e significado dos caracteres chineses- ao contrário das escritas alfabéticas- acontece de forma totalmente independente. Sendo assim, problemas de dislexia em culturas diversas teriam causas distintas- e, portanto, não se poderia falar em um mecanismo universal.
     O especialista em distúrbios de aprendizagem, Michel dos Santos Silva, destaca que "atualmente, na cultura ocidental está enraizada um caráter que coloca a dislexia, assim como qualquer outro transtorno, como um rótulo. A pessoa disléxica não é a 'dislexia encarnada', ela é muito mais do que uma característica específica. Com ou sem dislexia, qualquer pessoa tem habilidades e qualidades. Assim como existem centenas de milhares de tipos de personalidade, assim também, um disléxico é diferente do outro. Devemos aniquilar a cultura do rótulo, rotular qualquer pessoa como "incapaz", "burra", "problemática", etc, não contribui para o desenvolvimento dela, ao contrário. Todos os pais de uma pessoa disléxica devem saber que seu filho ou sua filha é capaz de aprender, mas aprende de uma forma própria e em sua própria velocidade, devem controlar a ansiedade do homem contemporâneo que quer resultado imediato. Mas do que resultado imediato, é mais importante o acompanhamento adequado com um ambiente que favoreça a aprendizagem dos filhos. Os pais devem propiciar um ambiente reforçador para os filhos, e saber que punição não vai fazer ele aprender melhor, o disléxico tem uma real dificuldade em aprender com a forma convencional, e não é sua escolha ter essa característica. Os pais que tem dúvidas sobre o diagnóstico de seus filhos devem procurar profissionais adequados, que sejam formados em distúrbios de aprendizagem e dislexia". 
 Fonte: Nature 431, 2004, pág.71)

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