A associação Americana de Psiquiatria aprovou uma revisão na classificação de algumas patologias mentais.
O objetivo da iniciativa, segundo David Kupfer, presidente do grupo de trabalho, foi definir de forma mais exata as doenças mentais que tem um grande impacto na vida dos doentes, mas não ampliar o campo da psiquiatria.
Os detalhes dos novos critérios foram divulgados na publicação do manual de diagnóstico Psiquiatrico (DSM agora na V edição), que ocorreu em maio de 2013.
A nova classificação reúne todas as variantes do Autismo em uma única categoria, chamada "distúrbios do espectro Autista", e exclui a Síndrome de Asperger como doença. A síndrome afeta crianças muito inteligentes mas com grandes dificuldades de interação social. Em uma citação Allen Frances relata que: “Quando nós introduzimos no DSM-IV a síndrome de Asperger, forma menos severa de autismo, nós havíamos estimado que isso multiplicaria o número de casos por três. De fato, eles foram multiplicados por quarenta, principalmente porque esse diagnóstico permite ter acesso a serviços particulares na escola e fora dela. Por conseguinte, ele foi colocado em crianças que não tinham todos os critérios”.
A dislexia também desaparece do manual, enquanto foram criadas novas categorias, como a irritabilidade frequente e forte nas crianças, agora considerada como doença mental.
O "estresse pós-traumático" também foi incluído.
Apesar da vultosa soma de dinheiro empregado para a elaboração do DSM-V, cerca de 25 milhões de dólares, o Manual parece deixar muito a desejar sobre o plano científico.
Uma das principais críticas é que a sua lógica está mais do que nunca profundamente dominada pelos interesses da indústria dos psicofármacos. O conflito de interesses intelectuais parece estar hoje escancarado, conforme foi denunciado, por exemplo, por ninguém nada menos do que Allen Frances. 57 associações de saúde mental propuseram um exame independente, o que foi ignorado pelos formuladores do DSM-V.
Novas patologias aparecem, algumas bastante bizarras, como por exemplo, a “síndrome de risco psicótico”.
A propósito, Allen Frances tornou pública a seguinte observação, feita após uma conversa com um colega: “Esse médico estava muito excitado com a idéia de integrar ao DSM-V uma nova entidade, a ‘síndrome de risco psicótico’, visando a identificar precocemente transtornos psicóticos. O objetivo era nobre, ajudar os jovens a evitar o fardo de uma doença mental severa. Mas eu aprendi trabalhando nas três edições precedentes que o inferno está cheio de boas intenções. Eu não poderia permanecer em silêncio”. Essa patologia parece ter sido retirada da versão final.
Mas há outras patologias que parece que virão, como “transtornos cognitivos menores”.
O coletivo francês Stop DSM, prevê que a perda da memória fisiológica com a idade irá se tornar uma patologia em nome da prevenção da doença de Alzheimer.
Outro exemplo é a patologização do luto, com a ampliação dos “transtornos de depressão”. Quer dizer, após duas semanas de luto, com a aparência deprimida do enlutado será possível diagnosticar episódios depressivos maiores e com isso a prescrição de antidepressivos.
Finalmente, mais um exemplo: “transtorno de desregulação pertubadora do humor”. O que certamente levará a que banais cóleras infantis sejam transformadas em uma patologia mental.
No Brasil, o 18 de maio é um dia que representa para nós o Dia Nacional de Luta Antimanicomial, expressão nacional de luta contra todas as formas de violência, exclusão, mercantilização e medicalização do sofrimento e da vida cotidiana. Nós nos solidarizamos às dezenas de entidades que estão se manifestando neste momento frente à sede do Congresso da APA, em San Francisco, Los Angeles, EUA. Sendo assim podemos levantar um prognóstico observável que quando a nova edição do DSM-V chegar ao Brasil não será aceito com aplausos.
É necessário entender que existe um risto primordial na patologização que é a ministração de medicamentos que observa-se que uma das intenções do novo manual é intervir antes que transtornos mais graves apareçam, seria realmente esse o caminho para o tratamento dos transtornos mentais?
Algo a se pensar.
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